Pretendo fazer a tradução de um grande texto da pesquisadora
Barbara G. Walker do qual gostei muito. Não é uma tarefa pequena, porém acho
valioso e útil, para que as pessoas possam ler e desfrutar em português. Não
sou tradutor profissinal, mas vou fazer o melhor possível.
Veja o original em
http://www.skepticfiles.org/mys3/christ.htm
" O Jesus que era chamado Cristo, "Ungido",
tomou seu título dos deuses salvadores do oriente médio Adonis e Tammuz,
nascidos da virgem deusa do mar Aphrodite-Maria (Myrrha) ou Ishtar-Mari (em
Hebraico Mariamne). Há versões mais antigas na bíblia do mesmo herói como Josué
filho de Nun (Exodo 33:11), Jehu filho de Nimshi o qual foi ungindo por Elias
como um rei sagrado (Reis 1 19:16) e Yeshua filho de Morah; O Livro de Enoch
disse no século 2 A.C. que Yeshua ou Jesus era o nome secreto dado por Deus
para o Filho do Homem (um título Persa) e que esse nome significa "Javé
salva".
No norte de Israel o nome era escrito Ieu. Era o mesmo que
Ieud ou Jeud, o "filho único" vestido em roupas de rei e sacrificado
pelo deus-rei Isra-El. As versões gregas do mesmo nome são Iasion, Jason ou
Iasus - o nome de um dos consortes sacrificados de Demeter, morto pelo Pai Zeus
após o ritual de fertilidade no qual ele copulou com sua mãe. Iasus significa o
curandeiro Therapeuta, que é como os gregos chamavam os Essênios, cujo grupo de
culto sempre incluía um homem com o título de Cristo. O significado literal do
nome era "curandeiro homem da lua", encainxando com a versão Hebraica
de Jesus como o filho de Maria, a almah ou "donzela da lua".
Parece que Jesus não foi uma pessoa, mas um composto de
muitos. Ele fez o papel do rei sagrado dos judeus que periodicamente morria em
uma cerimônia de expiação como substituto do rei verdadeiro. As religiões
semiticas praticavam imolações humanas há mais tempo que outras religiões,
sacrificando crianças e adultos para satisfazer deuses sanguinários. Apesar da
proibição imposta pelo imperador Adriano de se fazer estas oferendas homicidas,
elas foram mantidas em certos rituais clandestinos. Os sacerdotes do Deus Judeu
insistiam que 'um homem deve morrer pelo seu povo, para que uma nação inteira
não pereça' (João 11:50). Javé não perdoava pecados sem derramamento de sangue
'... sem derramamento de sangue não há remissão' (Hebreus 9:22).
Tradições do oriente-médio apresentam uma longa história de
salvadores imolados e canibalizados, voltando até a pré-história. Inicialmente
como reis, eles se tornavam então substitutos do rei ou reis 'sagrados'
conforme o poder das monarquias aumentava. O Jesus dos evangelhos certamente
não foi o primeiro deles, e ele pode ter sido um dos últimos. Uma passagem
mostra o medo do homem santo de tal existencia condenada: 'Quando Jesus
percebeu que eles viriam tomá-lo a força para fazê-lo um rei, ele partiu para a
montanha sozinho' (João 6:15).
Este Jesus teve pouca ou nenhuma importância para seus
contemporâneos. Nenhuma pessoa alfabetizada de sua época menciona ele em livro
algum. Os evangelhos não foram escritos na época dele, e nem foram escritos por
alguém que tenha visto ele em carne e osso. Os livros foram escritos após a
criação da Igreja, alguns já tão tarde como no segundo século D.C. ou depois,
de acordo com os requisitos da Igreja para uma tradição fabricada. A maioria
dos estudiosos acreditam que o livro mais antigo do Novo Testamento é 1
Tessalonicenses, escrito pro volta de 51 D.C. por Paulo, que nunca viu Jesus
pessoalmente e não sabia de nenhum detalhe da história da sua vida.
Os detalhes foram se acumulando através de adoções
posteriores de mitos relacionados a cada deus-salvador encontrado no império
Romano. Como Adonis, Jesus nasceu de uma donzela consagrada do templo na
caverna sagrada de Belém, 'A Casa do Pão'. Ele foi comido em forma de pão como
Adonis, Osiris, Dionysus e outros; ele se chamava de pão de Deus (João 6:33).
Como os adeptos de Osiris, os de Jesus faziam-no parte de si mesmos ao comê-lo,
para assim participar na sua ressureição: 'Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele.' (João 6, 56).
Como Attis, Jesus foi sacrificado no equinócio da primavera
e voltou da morte no terceiro dia, quando ele se tornou Deus e ascendeu ao céu.
Como Orfeu e Heracles, ele atravessou o inferno e trouxe o segredo da vida
eterna, prometendo levar todos os homesn com ele para a glória (João 12:32).
Como Mitra e os outros deuses solares, ele celebrou o nascimento nove meses
depois no solstício de inverno (hemisfério norte), pois o dia de sua morte era
também o dia da sua re-concepção cíclica.
Dos deuses antigos Jesus adquiriu não só o título de Cristo
mas todos os outros títulos também. Osiris e Tammus eram chamados Bom Pastor.
Serapis era Senhor da Morte e Rei da Glória. Mitra e Heracles eram Luz do
Mundo, Sol da Retidão, Helios o Sol Nascente. Dionysus O Rei dos Reis, Deus dos
Deuses. Hermes era o Iluminado e o Logos. Vishnu e Mitra eram Filho do Homem e
Messias. Adonis era O Senhor e o Noivo. Mot-Aleyin era o Cordeiro de Deus.
Salvador se aplicava a todos eles.
Cultos de mistérios em todo o império ensinavam que homens
comuns podiam ser possuídos pelo espírito desses deuses, e se identificar com
eles como 'filho' ou alter-ego, como Jesus o era. Era a maneira geralmente
aceitável de se adquirir poderes supernaturais, como demonstrado pelos
encantamentos usados pelos magos: 'O que eu digo deve acontecer...Pois tomei
para mim o poder de Abraão, Isac, Jacó e o grande deus-demônio
Ablanathanalba... pois eu sou o Filho, eu ultrapasso o limite, eu sou aquele
que está no sétimo céu, que está nos sete santuários; eu sou o filho do Deus
vivo...eu fui unido com minha forma sagrada. Eu recebi o poder pelo teu nome
sagrado. Eu recebi a Efluência da bondade, Senhor, Deus dos deuses, Rei,...
tendo recebido a natureza semelhante à de Deus.'
O cético Celsus notou que pedintes e vagabundos em todo o
império estavam fingindo que realizavam milagres e se tornavam deuses,
exbravejando, profetizando o fim do mundo e aspirando o status de salvador:
Cada um com o conviniente e costumaz jogo: 'Eu sou deus' ou
'O filho de Deus', ou ' um espírito divino', e 'Eu vim. Pois o mundo está para
ser destruído, e vocês, homens, por causa da sua injustiça, irão com ele. Mas
eu quero salvá-los, e vocês me virão voltar com com poderes divinos. Bendito
daquele que me adora agora! Aos outros, tanto nas cidades quanto nos campos, eu
deverei jogar ao fogo eterno. E os homens que agora ignoram suas punições
deverão arrepender-se em vão e gemer, mas aqueles que acreditarem em mim eu os
manterei imortais.
Certamente esta doutrina 'conspicuamente falsa' era também a
mensagem central dos evangelhos. A escatologia Persa passando pelo filtro
Judeu-Essênico previa 'O filho do Homem vindo em uma nuvem com poder e grande
glória' (Lucas 9:27, 21:27). Jesus prometeu o fim do mundo na sua própria
geração. O resto do material dos Evangelhos era em sua maioria dedicado aos
milagres objetivando a demonstração do seu poder divino, já que religiões
geralmente 'alegam revelações, aparições, profecias, milagres, prodígios e
mistérios sagrados para que elas sejam valorizadas e aceitas'. Até esses
milagres eram derivados de outras religiões.
Transformar
água em vinho em Canaã foi copiado de um ritual de Dionysus praticado em Sidon
e outros lugares. Em Alexandria o mesmo milagre Dionysiano era regularmente
mostrado para as massas de fiéis, através de um invento criado por um esperto
engenheiro chamado Heron.
Invento de Heron para o truque de transformar água em vinho
Centenas de anos antes, sacerdotisas em Nineveh curavam os
cegos com saliva e a estória era repetida em nome de vários deuses diferentes e
suas incarnações. Demeter de Eleusis multiplicava pães e peixes no papel de
Senhora da Terra e do Mar. Curar os doentes, levantar os mortos, tirar o
demônio do corpo, manejar serpentes venenosas (Marcos 16:18), etc, eram coisas
tão comuns que Celsus desprezava estes 'milagres' cristãos como 'nada mais que
os truques comuns dos encantadores que, por algumas poucas moedas (oboli) criam
grandes feitos no centro do Fórum... os magos do Egito tiravam os maus
espíritos, curavam doenças com um sopro, e assim influenciavam os homens sem
cultura, nos quais eles produziam quaisquer visões e sons assim que eles
quisessem. Mas só por causa dessas coisas, devemos considerá-los Filhos de
Deus?'
Os magos sempre afirmaram que suas orações poderiam atrair
bandos de seres sobrenaturais para auxiliá-los. Assim Jesus declarou que suas
orações poderiam atrair doze legiões (72.000) anjos da guarda (Mateus 26:53).
Os magos também comunhavam com seus seguidores com os sacramentos-padrão dos
cultos-de-mistérios, o sacramento do pão-carne e o do vinho-sangue. Em textos
de magia, 'o deus-mágico dá seu próprio corpo e sangue a um recipiente que ao
comê-lo se une a ele no amor.'
A habilidade de andar sobre a água era afirmada pelos homens
santos do oriente desde quando os monjes Budistas reconheciam esta como sendo a
marca do verdadeiro asceta. Os Papiros Mágicos diziam que quase qualquer pessoa
poderia andar sobre a água com a ajuda de 'um demônio poderoso'.
Impossibilidades sempre foram as ferramentas da credulidade religiosa, como
Tertuliano adimitiu: 'É crível porquê é absurdo, é certo porquê é impossível'.
Porém milagres repetidos não são tão críveis quanto os
originais. Portanto os primeiros cristãos insistiam que todas as divindades
mais antigas e suas histórias milagrosas eram invenções do diabo, pois como ele
anteriormente já sabia da religião verdadeira, criou estórias de modo que os
crentes ficariam confusos sabendo de 'imitações passadas'. Pensadores pagãos
contra-argumentavam com a observação de que 'a religião cristã não contém nada
além do que aquilo que os cristãos tenham semelhante ao pagão, nada de novo,
nada realmente grandioso'. Até mesmo Santo Agostinho, achando a hipótese das
invenções do diabo difícil de engolir, adimitiu que a 'verdadeira religião' já
era conhecida pelos antigos, e que tinha existido desde o começo dos tempos,
mas passou a ser chamada cristã depois que 'Cristo veio em carne'.
Contudo os aderentes da verdadeira religião discordavam
violentamente em relação às circunstâncias da sua criação. Nos primeiros
séculos D.C. havia muitas seitas cristãs mutuamente hostis, e muitos evangelhos
contraditórios. Até já tardiamente no ano 450 o bispo Teodoro de Cyrrhus disse
que havia pelo menos 200 evangelhos reverenciados pelas igrejas de sua própria
diocese, até que ele destruiu todos exceto os quatro aprovados como canônicos.
Os outros evangelhos foram perdidos conforme seitas mais fortes venciam as mais
fracas, destruiam suas igrejas, matavam os crentes e queimavam seus livros.
Um Escritura, jogada fora dos canônicos, dizia que Jesus não
tinha sido crucificado. Simão de Cyrena sofreu na cruz em seu lugar, enquanto
Jesus estava ao seu lado rindo da cara dos carrascos dizendo: 'foi outro que
bebeu o fel e o vinagre; não fui eu... foi outro, Simão, que carregou a cruz
nos ombros. Foi outro em que colocaram a coroa de espinhos. Mas eu me
regojizava na colina... e ria da sua ignorância'. Os crentes nessa Escritura
foram preseguidos e forçados a assinar uma renúncia na qual se lia: 'Eu
anatematizo aqueles que dizem que Nosso Senhor sofreu só em aparência, e que
havia um homem na cruz e um outro a distância que ria.'
Alguns cristãos interpretaram o 'noli me tangere' de Jesus
(não me toques) como se ele tivesse voltado da morte como um espírito
incorpóreo, da maneira de outros heróis apoteóticos, como o herói irlandês
Laegaire, que também disse ao seu povo que não o tocasse. Mais tarde, em um
evangelho desconhecido, o escritor inseriu a estória do Tomás que duvidou, que
insistiu em tocar Jesus. Isso serviu para combater a idéia herética de que não
havia ressureição da carne, e também para subordinar o deus municipal de
Jerusalém Tammuz ao novo salvador.
Na verdade uma das mais prováveis fontes da mitologia
primária do cristianismo era o culto de Tammuz em Jerusalém. Como Tammuz, Jesus
era o Noivo da Filha de Sião (João 12:15). Portanto sua noiva era Anath,
'Virgem Sabedoria Habiante de Sião', que era também a Mãe de Deus. A pomba dela
desceu sobre ele no dia do seu batismo, significando (na antiga religião) que
ela o escolheu para o amor-morte; Anath quebrou o cetro de junco de seu noivo,
o flagelou e o furou para fruir seu sangue. Ela pronunciou sua maldição de
morte, Maranatha (1 Corintíos 16:22). Assim como os evangelhos falam de Jesus,
o noivo de Anath foi 'abandonado' por El, seu pai divino. Jesus chorou para El,
'meu Deus, Deus, porquê tu me abandonastes?' parece que foi uma frase escrita
para o segundo ato do drama sagrado, o pathos ou Paixão (Marcos 15:34).
Certamente esta Paixão era originalmente sexual. As últimas
palavras de Jesus 'está feito' vem de 'consummatum est', que seria melhor
traduzido como 'está consumado', isto era interpretado como um sinal de que ele
estava morto, mas poderia igualmente se aplicar ao seu casamento (João 19:30).
Como a cruz ou pilar representava o falo divino, o templo
representava o corpo da Deusa, cujo 'véu' (hímem) era 'rasgado ao meio'
conforme Jesus passava para a morte (Lucas 23:45). Conforme era comum nos
mitos, quando um deus passava para o submundo o sol entrava em eclipse (Lucas
23:44).
Na ignorância de fenômenos astronômicos, os cristãos
afirmaram que a lua estava cheia ao mesmo tempo - a Páscoa ainda é um festival
de lua cheia - apesar de um eclipse do sol só ocorrer com o lado escuro da lua.
A lua cheia significa a fecundação da Deusa.
A partição da roupa de Jesus se refere ao desenrolamento de
Osiris quando ele surgiu da tumba como o itifálico Min, 'Marido de sua Mãe'. Se
Jesus era um só com seu pai divino, então ele também casou com sua mãe e
produziu a si mesmo. Uma Escritura do 4° século dizia que no mundo dos mortos
ele confrontou sua mãe como a Morte, Mu. Ela era também a Noiva disfarçada de Vênus,
a estrela do anoitecer, presidindo sobre a morte do sol. 'Venha. Oh amigo,
daremos as boas-vindas à Noiva' (cerimônia judia que precede o Sabath).
Como os pagãos, os primeiro cristão identificavam a Noiva
com a Mãe. Eles diziam que Jesus 'consumou na cruz' a sua união com a
Maria-Ecclesia, sua noiva a Igreja. Augustinho escreveu: 'Como um noivo Cristo
saiu de sua câmara, como um presságio de suas núpcias... Ele veio até a cama
nupcial da cruz e lá, montado sobre ela, ele consumou seu casamento..., ele amavelmente
se deu ao tormento no lugar da sua noiva, e ele se juntou à mulher para
sempre.' João 19:41 diz, ' No lugar onde ele foi crucificado havia um jardim; e
no jardim um novo sepulcro, no qual nenhum homem jamais deitou.' Um jardim era
o símbolo convencional para o corpo da mãe/noiva na época; e uma nova tumba era
o útero virgem, onde o deus iria nascer de novo. No terceiro dia, Jesus saiu da
tumba como Attis, cuja ressurreição era a Hilaria, ou dia de Alegria. O dia de
ressurreição de Jesus recebeu o nome (nas línguas anglo-saxônicas) de Eostre
(Easter), a mesma deusa que Astarte, a qual os Sírius chamavam Mãe Mari.
Três incarnações de Mari, ou Mary, ficaram aos pés da cruz
de Jesus, como as Moerae da Grécia. Uma foi sua mãe virgem. A segunda era sua
'mui amada' Maria Madalena. A terceira Maria deve ter sido a representação de
Crone, para ser semelhante às três Norns aos pés da árvore sacrificial de Odin.
As Fates estavam presentes nos sacrifícios ordenados pelos Pais Celestiais,
cujas vítimas eram penduradas em árvores ou pilares 'entre a Terra e o Céu'.
Até os tempos de Adriano, vítimas oferecidas a Zeus em Salamis eram ungidas com
os unguentos sagrados - tornando-se assim 'Os Ungidos' ou 'Cristos'. - e então
pendurados e esfaqueados na lateral com uma lança. Nada no mito de Jesus
ocorreu por acaso, cada detalhe era parte de uma tradição formal de sacrifício,
até na 'procissão das palmas' que glorificava reis sagrados na antiga
Babilônia.
Tradições do oriente também foram utilizadas. O império
romano conhecia bem os ensinamentos e dos mitos do Budismo. Imagens de Buda em
estilo grego clássico foram feitas no Paquistão e Afeganistão no primeiro
século D.C. Idéias budistas como 'as pegadas de Buda' apareceram entre
cristãos. O bispo Sulpicus de Jerusalém disse que, como na India, 'na poeira
onde Cristo andou, as marcas dos seus passos ainda podem ser vistas, e a terra
ainda tem a impressão dos seus pés'. Metáforas do budismo e frases também
aparecem nos evangelhos. A forma de chamar Jesus 'Querido Amado' era a forma
convencional para as divindades tântricas endereçarem seus ensinamentos para as
Devi, suas Deusas.
O esforço dos estudiosos de eliminar paganismo dos
evangelhos de maneira a encontrar o Jesus histórico se provaram sem esperanças,
como procurar caroço em uma cebola. Como uma miragem, a figura de Jesus parece
clara à distância, porém falta solidez quando se aproxima. Os 'Seus dizeres' e
parábolas vem de outros lugares; os 'milagres Dele' eram estórias re-contadas.
Até o Pai-Nosso é uma coleção de dizeres do Talmud, muitas derivadas de antigas
orações a Osiris. O Sermão da Montanha, algumas vezes dita de conter a essência
do cristianismo, não possui nada original; foi feita com fragmentos dos Salmos,
Eclesiastes, Isaías, Segredos de Enoch e o Shemone Esreh. Além disso sermão era
desconhecido pelo autor do mais antigo evangelho, o pseudo-Marcos.
A descoberta de que os Evangelhos foram forjados, centenas
de anos depois dos eventos que ele descrevem, ainda não é fato amplamente
conhecido, mesmo que a Enciclopedia Católica admita, 'A idéia de um cânon
completo e claramente executado do Novo Testamento existindo desde o início...
não tem fundação histórica.' Nenhum manuscrito pode ser datado antes do 4°
século D.C., muitos foram escritos até depois. Os mais velhos manuscritos
contradizem-se, da mesma maneira que o canon atual de Evangelhos sinópticos.
A igreja deve seu cânon ao professor gnóstico Marcion, quem
primero colecionou as epístolas Paulinas ao redor do 2° século. Depois ele foi
excomungado como herético porque ele negou que as Escrituras eram alegorias
místicas cheias de palavras mágicas de poder. As epístolas que ele colecionou
já tinham cem anos de idade, isto é, se elas realmente foram escritas por
Paulo; muito do material nelas foi inventado ou foi feito com interpolações
forjadas.
A figura mais 'histórica' dos evangelhos é Pôncio Pilates, a
quem Jesus fora apresentado como 'rei' dos judeus e simultâneamente como
criminoso merecedor de pena de morte por blasfêmea porque ele chamava a si mesmo
de Cristo, Filho do Bendito (Lucas 23:3, Marcos 14:61-64). Este crime alegado
não era um crime real. Províncias do leste eram cheias de Cristos
auto-intitulados e Messias, se chamando de Filhos de Deus e anunciando o fim do
mundo. Nenhum deles fora executado por blasfêmea. O começo da estória
provavelmente está na tradição de sacrifício de rei-sagrado que existia em
Jerusalem muito antes da administração de Pilates, quando Roma estava tentando
desencorajar estes barbarismos.
De 103 a 76 A.C. Jerusalem fora governada por Alexandre
Janneaus, chamado de Aeon, o qual defendia seu trono lutando contra
desfiadores. Em um ano, no Dia de Expiação, o seu povo o atacou no altar,
sacudindo folhas de palmas significando que ele deveria morrer pela fertilidade
da terra. Alexandre declinou a honra e instituiu uma perseguição dos sujeitos
desafiadores que ele havia vencido. Um outro rei de Jerusalem tomou o nome de
Menelau, 'Rei-Lua', e praticava o ritual sagrado de casamento no seu templo. Herodes
também fez um casamento sagrado, e fez com que João Batista fosse morto como um
substituto de si mesmo.
Se existiu um culto de Jesus em Jerusalem após 30D.C., ele
desapareceu completamente quarenta anos depois quando Tacitus conquistou a
cidade e proibiu vários costumes locais como o sacrifício humano. Jerusalem foi
totalmente romanizada na época de Adriano. Ela foi re-batizada como Aelia
Capitolina e rededicada à Deusa. O templo se tornou um santuário de Vênus.
Tacitus descreveu o sítio de Jerusalem, mas seus escritos foram abruptamente
cortados no momento em que as forças romanas entraram na cidade - como se os
capítulos finais tivessem sido deliberadamente destruídos - de maneira que
ninguém sabe o quê os romanos encontraram lá. Porém os romanos expressaram
desaprovação aos sacramentos canibalísticos dos judeus e cristãos. Porfírio
chamou de 'absurdo além de todo absurdo, e bestial além de toda sorte de
bestialidade, que um homem comesse carne humana e bebesse o sangue de homens de
seu mesmo genus e espécie, e ao fazer isso teria vida eterna'.
Do ponto de vista dos cristãos, um Jesus histórico real era
essencial para a premissa básica da fé: a possibilidade de imortalidade através
da identificação com a sua própria morte e ressurreição. Welhausen corretamente
afirmou que Jesus não teria lugar na história a não ser que ele morresse e
retornasse exatamente como os Evangelhos dizem. 'Se Cristo não tivesse
levantado, a sua fé seria em vão' (Coríntios 15:17). Ainda assim, apesar de
séculos de pesquisa, nenhum Jesus histórico veio à luz. Parece que a estória
dele foi somente coberta de mitos; ela é mítica até o caroço.
Como todos os mitos, ele revela muito sobre a psicologia
coletiva que o criou. Nas religiões pagãs anteriores, a Mãe e o Filho
periodicamente depunham o Pai de seu trono celeste. O filho divino do
cristianismo não estava mais desafiando o rei dos céus, mas estava se deixando
domar e se submetendo à sua ordem fatal: 'Não a minha vontade, mas a tua, será
feita' (Lucas 22:42). Em algumas seitas iniciais dizia-se que o Pai que pedisse
o sangue do seu filho era cruel, até demoníaco. Estas seitas foram suprimidas,
porém estudiosos discerniram no cristianismo 'uma atitude original de
hostilidade em relação à figura paterna, a qual fora modificada nos dois
primeiros séculos em uma atitude de docilidade passiva masoquista.
Se o cristianismo ortodoxo demandava subordinação do Filho,
ele era ainda mais determinado em subordinar a Mãe. O Jesus do Evangelho
mostrou pouco respeito pela sua mãe, o que dificultou em seu Renascimento os
esforços de atrais mulheres para o culto de Maria. 'Qualquer herói que fala com
sua mãe somente duas vezes, e em ambas ocasiões a chama simplesmente
"Mulher", é uma figura difícil para os biógrafos sentimentais.' Junto
com a oposição de Jesus ao casamento e a família (Mateus 22:30, Lucas 14:26), e
ao mesmo tempo considerado-os os principais interesses da mulher, há uma
tendência sexista no Novo Testamento que enojava as mulheres educadas da
antiguidade.
Mas o Jesus que emulou Buda ao advogar pela pobreza e
humildade eventualmente se tornou a principal figura mítica de uma das mais
preeminentes organizações fazedoras de dinheiro do mundo. O cínico Papa Leão X
exclamou: 'Que lucros não nos trouxeram essa fábula de Cristo!'.
Teólogos modernos tendem a deixar de lado a questão de se
Jesus foi de fato uma fábula ou uma pessoa de verdade. Haja vista a completa
falta de evidência física, e da natureza dúbia da evidência circunstancial,
parece que o cristianismo é baseado no fenômeno universal da credulidade:
Uma idéia pode ganhar e reter a áurea de verdade essencial
através do contar e recontar. Esse processo doa uma amável noção com mais
veracidade que uma biblioteca de fatos... Documentação tem apenas um pequeno
papel em contraste com o ato de re-confirmação de cada geração de estudiosos.
Além disso, quanto mais longe da época em questão, maior é a força da
convicção. A incredulidade inicial é logo convertida em crença na probabilidade
e eventualmente em garantia presunçosa. "
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